Resolvendo
conflitos internos
Uma das perguntas que
geralmente formulamos é a seguinte: Por que as igrejas perdem seu impacto? Por
que comunidades outrora saudáveis, empolgantes, missionárias, eventualmente
definham e até mesmo desaparecem? Experts afirmam que em 60 anos uma igreja pode
deixar de existir, para isto basta apenas que não atraia pessoas novas e os
filhos não permaneçam na igreja.
Veja este exemplo:
Jim Bakker, foi um dos
pastores de maior ascensão na história dos EUA. Em 1973, iniciou seu próprio
ministério, com o Clube PTL, em cinco anos criou uma rede de satélite de 24
horas, que no seu auge entrava em 14 milhões de lares nos EUA, e em muitos
outros países.
Ele ensinava que fé
gerava fortuna, e que a prosperidade era sinal do favor de Deus, e sua mensagem
deu resultados. A popularidade e a audiência cresceram exponencialmente. Em
1975, adquiriu um terreno no estado de Carolina do Sul, em 1979 já estava
inaugurando Heritage USA, um centro de conferências e retiros que contaria com
um grande hotel cinco estrelas com mais de quinhentos apartamentos, um parque
temático de diversões aquáticas (treze milhões de dólares), centro comercial, e
muitas outras atrações. No seu auge em 1986, este parque atraiu 6,2 milhões de
visitantes, ficando atrás apenas da Disneylândia e do Disney World como
atrações turísticas nos EUA. Com 2.200 empregados, o orçamento anual da
Heritage era de U$30 milhões. Havia até 80 cultos por semana e o hotel ficava
superlotado.
Mas este grande
império, apesar de todos seus tremendos frutos, estava edificado sobre a areia,
e começou a ruir em 1987. Jim caiu em adultério e apesar de ter confessado seu
pecado a um conselheiro cristão, foi obrigado a renunciar a presidência da PTL
Denúncias e
investigações
posteriores sobre a administração financeira do ministério levaram Bakker a um
julgamento e a sentença do juiz foi de nada menos do que 45 anos de prisão!
Naquela época ele estava com 49 anos, era uma sentença de prisão perpétua.
Tempos depois sua esposa com quem esteve casado por 30 anos, Tammy Faye,
pediu divórcio: perdeu ministério,
casamento, reputação, posses, liberdade,
Jim Bakker, apelou da
sentença e hoje é um homem livre novamente. seu tempo de prisão foi reduzido, e
em 1994, depois de quase cinco anos na prisão, pôde sair em condicional.
O que levou tal
instituição à morte? Quais foram os germes e vírus que se infiltraram nesta tão
promissora instituição? A verdade é que toda igreja tem problemas, mas quais
são os vírus da morte que podem destruí-la?
A Igreja primitiva é
descrita como idílica, perfeita, e vive num clima de euforia até o capítulo
quatro, sendo visitada pelo Espírito Santo, tendo grandes manifestações
espirituais, curas, milagres e resistindo à perseguição de forma ousada e fiel.
O capítulo cinco, porém, mostra a realidade dos fatos. Era uma igreja vitoriosa
sem triunfalismos. Aquela igreja tem na sua membresia pessoas com Ananias e
Safira. No capítulo seis, surge outro problemas. A minoria grega, chamada aqui
de "helenistas" sente-se discriminada, surgem acusações de
discriminação e preconceitos, suspeita de favorecimento. Havia um murmúrio de
que as viúvas de tradição hebraica estavam sendo privilegiadas. Crises,
comentários, fofocas, diz-que-me-diz, falatório, boatos. A Igreja enfrenta sua
primeira crise interna e precisa agir imediatamente.
Este texto nos ensina
como a igreja precisa fazer quando surge alguma dificuldade interna.
Como
o Obreiro lida com as crises internas?
1. Antes de mais nada, precisamos entender
que problemas internos são os únicos que realmente ameaçam a igreja.
No capítulo cinco, após
serem ameaçados e açoitados, saem do Sinédrio sem medo (At 5.40,41). As ameaças
do Sinédrio não lhes impunha medo. As pressões externas não incomodam a igreja,
antes a fortalece. Mas no capítulo seis, a língua dos fofoqueiros faz a igreja
tremer.
A verdade é que as
guerras internas ameaçam mais que qualquer coisa externa.
A Igreja só morre por
suicídio
Não é a oposição, nem
os ataques do diabo que destroem a igreja. Ela sucumbe pelo peso de suas
próprias falhas. Jesus afirma que “as portas do inferno não prevalecerão contra
a igreja”, portanto, oposição do diabo não destrói a igreja.
Temos aqui uma noticia
boa e uma notícia ruim. A notícia boa é que o maior inimigo da Igreja não é o
diabo; A notícia ruim é que seu maior inimigo é ela mesma. O povo de Deus nunca
foi destruído pelos inimigos, por mais poderosos que fossem, mas Israel foi
destruído por causa da infidelidade.
Muitas crises, na
verdade, não deveriam ser vistas como ameaça, mas como oportunidades para
descobrir novos valores. Esta crise vai revelar pessoas escondidas na
comunidade como Filipe, que se desponta no capitulo 8 de Atos como poderoso
evangelista, e Estevão se tornaria o primeiro mártir da história, dando poderoso
testemunho de sua fé diante das autoridades que o apedrejam. Estes homens
surgiram de uma crise.
Deus é soberano. O
problema não era para destruir, mas para ajudá-los a perceber novas
necessidades e oportunidades que estavam surgindo. A igreja precisava se
adequar aos novos tempos, e novos líderes surgiram exatamente por causa de uma
crise doméstica.
Desta crise em Atos 6,
dois fatos novos se tornam marcantes:
Primeiro, a igreja
descobre um novo modelo eclesiástico, deixa de ser apostólica e passa a
funcionar num modelo de presbíteros e diáconos. Jesus não instituiu nenhum
destes ofícios, mas a Igreja Primitiva organizou-se dentro desta nova forma de
ser igreja
Segundo, surgiram dois
novos líderes que se tornarão personagens centrais no Livro de Atos, nos
capítulos subseqüentes: Atos 7 e 8: Estevão, o primeiro mártir do cristianismo
e Filipe, ousado evangelista.
2. Nossos problemas são resolvidos quando
identificamos as prioridades.
A Igreja Primitiva
estava lidando com reais problemas internos. Ela precisava agir. O que deveria
fazer?
Os apóstolos decidem
reformular e reestruturar sua estratégia de ação, e uma das decisões cruciais
foi repensar a estrutura da Igreja. Nesta mudança, a liderança decide se ater a
dois ministérios: Oração e Palavra.
Uma das grandes
dificuldades da Igreja diante das crises é valorizar demais as crises, e se
perder nas críticas, não se assentar para reformular e repensar. Uma das
melhores formas de responder às críticas, é criar uma nova estratégia. Muitas
vezes a crise demonstra a necessidade de mudança. Temos que parar de nos
defender e perguntar: O que este esta crise tem de verdadeira? Quais as bases
da crítica? Onde vamos colocar nossas atenções?
O que deve ser mudado?
A liderança precisava
definir suas prioridades. Se todos saíssem para resolver o problema das viúvas,
esquecendo-se de outras áreas, perderiam as prioridades. A crise não pode ser
exacerbada nem deve maximizar seu ponto vulnerável. É preciso tratar deles, sem
esquecer que outras coisas importantes devem acontecer.
Eles percebem suas
limitações, sabem que "cimento fino, racha". Não iam poder alcançar
tudo, era preciso estabelecer prioridades.
3. Diante dos problemas, quando intenções
estão sendo questionadas, os atos devem ser radicais.
O
que a liderança faz? Ela radicaliza.
Elegem sete homens:
Estevão, Prócoro, Filipe, Timão, Nicanor, Pármenas e Nicolau. O que é curioso é
que todos eles são gregos, nenhum é judeu, embora a liderança da Igreja até ali
tenha sido toda judia. Quem estava reclamando? Não eram os gregos? Portanto,
eles deveriam assumir a coordenação desta área, eliminando assim toda a
suspeita e fofoca.
Os apóstolos não tinham
obsessão por controle. O que fizeram? Definiram as prioridades: “quanto a nós
nos dedicaremos ao ministério da palavra e da oração”, e a administração dos
recursos passa então a ser realizada pelo novo ministério que é criado agora: A
diaconia.
Isto se chama de reação
radical. Quando a liderança for acusada de não orar, o que deve fazer? Orar com mais intensidade. Se acusada de
displicência? Deve responder com atitude santa e trabalho. Se for acusada de
desorganizada? Deve reestruturar, planejar, reorganizar.
Nenhuma comunidade terá
saúde maior que a da liderança, e jamais pode exigir atitudes maiores do que a
que está vivendo. Nenhuma igreja vai além de sua liderança. Por isto é que
quando presbíteros e diáconos são envolvidos na obra, a igreja cresce junto. Se
forem sérios na palavra, a igreja também será; se são homens de oração, a
igreja também será de oração; se é uma liderança comprometida com recursos,
generosa com seus bens, a igreja assim será. Nenhuma igreja vai além de sua
liderança.
Sintetizando podemos
afirmar que três posições radicais foram tomadas:
Descentralização do
poder em torno dos apóstolos
Mudança das estruturas
de governo
Eleição de líderes não
judeus.
4. A solução de problemas requer pessoas com
duas virtudes que embora distintas, não podem andar separadas: Eles escolhem
homens Cheios do Espírito Santo e cheios de sabedoria.
Pode alguém ser cheio e
não ter sabedoria?
Pode alguém ser sábio
sem ser cheio do Espírito?
Este é um desafio
constante da igreja. Muitas vezes a grande crise, não é se o Espírito está ou
não agindo, mas é a crise do bom senso, da sensatez, da sabedoria. Muitas
igrejas agem de forma infantilizada, imatura, sem senso crítico.
Muitos líderes pecam
por falta de sabedoria.
Suas decisões conspiram
contra o bom senso.
Por outro lado, muitos
pecam por falta da superficialidade na sua vida de devoção, tornam-se líderes
secos espiritualmente, bons professores e pregadores, sem deixarem suas almas
serem tocadas pelo Espírito Santo. Bons
teólogos, porém corações áridos.
Não é fácil equilibrar
a fórmula: Ser cheio do Espírito Santo e cheio de sabedoria.
5. Crises precisam ser administradas com
reverência.
O surpreendente do
texto é que os apóstolos tratam toda a questão com reverência. Não se sentem
ameaçados como líderes. Depois de deixarem a igreja escolher os sete irmãos que
cuidariam da situação, eles demonstram que não estão irritados com o problema,
pelo contrário, e depois de seguirem o processo eles são oficialmente
apresentados perante os apóstolos, “e estes, orando, lhes impuseram as mãos (At
5.6). Ao impor as mãos eles tratam a questão com santidade e não perdem a
autoridade.
A questão foi resolvida
e não perdem o respeito da comunidade. Na solução dos problemas deve-se
preservar o temor a Deus. Liderança tem que ter reverência pela Igreja, pelo
Corpo de Cristo.
Conclusão
Igrejas sempre
enfrentarão crises internas. O processo de amadurecimento não pode ser
demorado.
Muitas vezes a igreja é
lenta para resolver suas crises, e enquanto isto, perde o poder de atração
daqueles que buscam respostas, porque muitos por razões compreensíveis e
justificáveis, não toleram entrar numa igreja em crise, ou uma comunidade
constantemente tentando descobrir o que é chamada a fazer.
A verdade é que, nem a
igreja primitiva, no auge de sua expansão e avivamento estava isenta de
dificuldades e questionamentos. Para resolver a crise, a igreja debaixo da
orientação do Espírito Santo, muda até mesmo sua estrutura de ministério,
deixando de ser apostolar, para ser diaconal.
A crise trouxe um novo
e dinâmico modelo de funcionamento eclesiástico. Deixa de ser regida pelos
apóstolos e passa a ser regida pelos presbíteros e diáconos. É também a
primeira eleição na história da igreja. Os apóstolos permitiram que sua
liderança fosse compartilhada. Ainda eram os líderes, mas a igreja podia se
manifestar e escolher líderes de outras áreas Este modelo tem sido ainda hoje
adotado pelas igrejas reformadas no mundo inteiro.
A crise interna, ao
invés de trazer divisão, trouxe união.
Ao invés de gerar
estagnação, trouxe nova dinâmica;
ao invés de transformar
os apóstolos em pessoas defensivas, os levou a permitir uma maior participação
da comunidade no processo de administrar a comunidade local.
Eles deram a
orientação, e a igreja aceitou. Não perderam a liderança, mas a conquistaram
numa base muito mais eficiente.
Crise de igrejas
bíblicas devem sempre redundar em crescimento, novas possibilidades, e expansão
do reino. Este texto termina com a seguinte afirmação: “Crescia a palavra de
Deus, em Jerusalém se multiplicava o número dos discípulos, também muitíssimos
sacerdotes obedeciam à fé” (At 6.7).
A crise redundou numa
nova forma de organizar e liderar a igreja. Estruturas não podem ser maiores
que o Reino de Deus. Jesus não estabeleceu diáconos, mas os apóstolos decidiram
sobre este tema. A metodologia da igreja não era sagrada.
A crise permitiu o
surgimento de novos líderes como Filipe e Estevão. Problemas internos não podem
ser vistos como ameaças, mas como oportunidade de crescimento e descoberta de
novos líderes.
A crise não impediu o
avanço do Evangelho. O número dos discípulos se multiplicava e até mesmo muitos
líderes religiosos se convertiam.
E assim avançava a
igreja de Cristo. No meio de pressões externas, crises internas, mas com temor
e santidade.
Bispo
Cristiano Farias da Silva -Vice presidente - Assembléia de Deus Missão
Profética
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