Uma das cartas mais
pessoais que temos na Bíblia é esta. Timóteo era filho na fé de Paulo, e se
tornou discípulo dele, seguindo-o onde quer que fosse, vendo como Paulo
pregava, ensinava e vivia, até ser designado para pastorear a igreja de
Éfeso. Antigamente não existiam
seminários para preparação de pastores, e a transmissão do conhecimento e da vida
se dava na medida em que mestre/aluno andavam juntos. Estes mestres eram
chamados demistagogos e tiveram uma função fundamental na história da igreja
para preparar seus alunos.
A exortação que ele dá
neste texto era fundamental para Timóteo naqueles dias, e ainda o é para os
dias de hoje. “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina”. Na nossa caminha
espiritual, precisamos estar atentos a duas coisas:
a. O estilo de vida
b. As convicções teológicas
“Podemos
estar cuidando muito bem de nós mesmos, mas desprezando o verdadeiro
conhecimento de Deus”.
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do momento que a pessoa
tem um encontro pessoal com Jesus Cristo e sua vida passa a ser dirigida pelo
Espírito Santo. Por receber uma nova natureza, passa a ter um estilo de vida e
comportamentos, um modo de andar, segundo Cristo. Como deve viver este homem que agora precisa
andar segundo Deus?
Quatro áreas são
essenciais para que o que é nascido de novo tenha um novo estilo de vida:
1. Corpo –Precisamos cuidar de nosso corpo.
Eventualmente abusamos dele. Dormimos mal, comemos mal (em demasia ou muito
pouco) vivemos desregradamente, somos sedentários, não tiramos um dia de folga,
trabalhamos exageradamente e não descansamos. Se nosso carro começa apresentar
algum barulho estranho, imediatamente corremos para o mecânico, mas
eventualmente nosso corpo está dando todos os sinais de que alguma coisa não
vai bem, mas não paramos para cuidar dele.
Mas não é apenas com o
sedentarismo que precisamos ter cuidado. Precisamos cuidar também da pureza
moral, não vivendo uma vida de pecado, de luxúria. A Bíblia afirma que todo
pecado que praticamos é fora do corpo, mas a impureza sexual acontece no corpo
(1 Co 6.18), e como somos templos do Espírito Santo, devemos viver vida de
santidade. Por isto a bíblia nos exorta: “Apresenteis os vossos corpos por
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”(Rm 12.2).
2. Mente – Outra área da qual precisamos
cuidar é o pensamento. Precisamos dar “razão da esperança que temos” (1 Pe
3.15). Discípulos de Cristo precisam ter uma mente preparada. A Bíblia nos fala
disto: “...E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
Vivemos numa cultura
contrária ao pensamento de Deus. Precisamos lembrar que “o mundo jaz no maligno”.
Às vezes nos assustamos com tanta bobagem que é dita nos canais de televisão e
nas músicas, e o mais estranho ainda é o fato de tais descalabros, absurdos e
imoralidades atraiam milhares de seguidores. Nossa mente é bombardeada por uma
sociedade secularizada, oposta a Deus e precisamos aprender a julgar as coisas
com discernimento. Ter a mente de Cristo. Estudar, preparar, saber julgar
valores, discernir pensamentos pagãos. Cuida de ti mesmo!
Muitos cristãos nunca
leram um livro para aprofundar seus valores cristãos, nunca se interessaram
numa escola dominical para saber mais da palavra de Deus, nunca foram a um
seminário ouvir uma palavra adequada sobre um determinado assunto. Por isto,
são atraídos a “todo vento de doutrina” e não são capazes de julgar as
besteiras que ouvem. Tornam-se raquíticos na fé e sem raízes nas suas
convicções. Mentes despreparadas e preguiçosas.
Vivemos numa
cultura contrária ao pensamento de Deus.
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4. Espiritualidade – Poderia ter colocado a
alma, mas preferi um termo mais abrangente e que exigisse menos definição. No
entanto, realmente precisamos cuidar da alma, se assim preferirem, deste
aspecto espiritual da existência. Alimentar a fé, com uma vida de oração, na
presença de Deus, vir ao culto para adorar, não se transformar num religioso
distante e insensível da vida de Deus. Aprender a orar, ler a bíblia
devocionalmente, cuidar da comunidade da qual faz parte, aprender a trazer seus
dízimos em adoração e louvor, servir e amar as pessoas por causa de nossa
espiritualidade.
Precisamos cuidar de
nós mesmos. Nosso coração pode facilmente se tornar frio e distante, sem amor,
sem paixão, sem prazer em Deus. Precisamos renovar nossos votos, voltar ao
primeiro amor.
O segundo ponto a ser
considerado é o cuidado com a doutrina
É muito curiosa esta
exortação. Não apenas devemos cuidar da vida: corpo, mente, emoções e alma, mas
devemos cuidar também da doutrina que professamos.
Já encontrei muitas
pessoas dentro da igreja que afirmam não gostar de doutrinas, porque elas
trazem a idéia de dogmas, algo inflexível, inegociável. Se você pensa desta
forma sugiro que você anote na sua Bíblia quantas vezes aparece a expressão
doutrina, apenas nas cartas de Paulo a Timóteo e Tito.
Paulo fala, por exemplo
de “boa doutrina” (1 Tm 4.6) de “outras doutrinas”(1 Tm 1.3) e da “sã doutrina”
(1 Tm 1.10). Vamos pensar um pouco sobre cada uma destas afirmações.
Primeiro, temos que
entender que existe “boa doutrina”, o que inexoravelmente nos leva a considerar
que existe seu oposto, ou seja, “a má doutrina”.
Boa parte dos livros do
Novo Testamento é apologética, por sua natureza. O propósito dos autores era de
“defender a fé, uma vez dada aos santos” (Judas vs 3). Por que? Já nos dias
apostólicos, “certos indivíduos se introduziram com dissimulação” na igreja
(Judas vs. 4). Era muito comum surgirem pregadores afirmando coisas que eram
contrárias à fé cristã, o conjunto de crenças aceito pelas igrejas Cristãs.
Paulo cita nominalmente Himeneu e Fileto, pregadores desviados da verdade (2 Tm
2.17,18). O perigo da má doutrina é sempre constante. Muitos se apostaram da fé
e passaram a obedecer a ensinos de demônios, cauterizando a consciência e que
ensinavam coisas absurdas no meio das igrejas (1 Tm 4.1-3).
A grande luta dos
reformadores do Século XVI foi contra as distorções da palavra de Deus. Era
necessário retornar as escrituras e considerar atentamente o que Jesus e os
apóstolos ensinaram à igreja. Eles desenvolveram o princípio da Sola Scriptura,
isto é, apenas as Escrituras Sagradas poderiam ser o fundamento daquilo que
deveriam crer e dar as normas de como deveriam viver. Nem tradição, nem novas
revelações ou novos ensinamentos, poderiam substituir ou serem acrescentados à
Palavra de Deus, Antigo e Novo Testamentos.
Não é muito diferente
em nossos dias.
A exortação paulina
parece cada vez mais atual: Cuida da boa doutrina. Cuidado com a má doutrina.
A má doutrina pode
destruir a simplicidade de sua fé e tornar a vida um inferno de acusação, medo
e culpa. Paulo diz a Timóteo que, cuidando dele e da doutrina salvaria tanto a
si mesmo como a outros.
A má doutrina pode
levar–nos ao inferno, ainda que dê a impressão de que ela está caminhando em
direção ao céu.
Em segundo lugar, Paulo
fala ainda da sã doutrina, o que nos leva a considerar que existe seu oposto, a
doutrina doente.
A doutrina bíblica é
saudável, traz vida aos ouvintes e praticantes. A doutrina doente, neurotiza,
sataniza e enlouquece seus seguidores. Não é por acaso que hospitais
psiquiátricos estão repletos de pessoas seguidoras de religiões. Princípios distorcidos podem enlouquecer as
pessoas.
Em terceiro lugar,
Paulo fala ainda de “outras doutrinas”(1 Tm 1.3). Paulo afirma que deixou
Timóteo em Éfeso para que admoestasse certas pessoas a não ensinarem “outra
doutrina”, isto é, havia naquela igreja, pessoas que estavam ensinando o que
Deus nunca havia dito.
“A
má doutrina pode levar–nos ao inferno, ainda que dê a impressão de que ela
está caminhando em direção ao céu”.
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Existe um “outro
evangelho”, uma “outra doutrina”, sendo ensinado por aí, e não deveremos nunca
aceitá-la. Rejeitar a verdadeira doutrina pode nos destruir espiritualmente,
como afirma as Escrituras (1 Tm 4.16).
Conclusão:
Cuida de ti mesmo e da
doutrina
Não apenas da doutrina,
mas de si mesmo.
Não apenas de si mesmo,
mas da doutrina.
Podemos estar cuidando
muito bem de nós mesmos, mas desprezando o verdadeiro conhecimento de Deus.
Podemos nos tornar
guardiões da doutrina e da fé cristã, como um grupo de templários modernos, de
fariseus judaizantes, de puritanos calvinistas ou devotos arminianos ou ainda
de pentecostais dos últimos dias, mas não estamos cuidando da simplicidade da
fé e da pureza que precisamos ter no nosso estilo de vida.
As duas situações são
perigosas. Ambas podem nos destruir.
A sabedoria ensina que
ao entrarmos num barco, precisamos remar não apenas de um lado, porque isto
leva o barco a andar em circulo ao invés de seguir uma direção. Desenvolver
espiritualidade distorcida traz desequilíbrio. O cuidado pessoal com o corpo, emoções,
mente e alma precisa estar junto, andando com a defesa das verdades e doutrinas
reveladas por Deus na sua palavra.
Bispo Samuel
Mendes de Sales
Assembléia de
Deus Missão Profética
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